domingo, outubro 23, 2005

Há vacinas para as galinhas, mas não podem ser aplicadas por rotina

Até agora, o que se tem feito para controlar os surtos de H5N1 é matar as aves em massa, para tentar debelar o foco de infecção. Mais de 140 milhões de aves foram já mortas, e esse procedimento começa a não ser considerado aceitável. Foi essa a conclusão de uma reunião de peritos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em Abril. A vacinação seria a estratégia mais eficaz, mas esta estratégia costuma esbarrar nos receios de que não se consiga distinguir os animais que têm anticorpos ao vírus porque foram vacinados dos que estarão mesmo infectados. Em último caso, isto poderia permitir ao vírus circular entre os animais sem ser detectado. No entanto, existe uma técnica que já foi usada várias vezes para distinguir as galinhas vacinadas. Foi desenvolvida em Itália, por um laboratório ligado à Organização Mundial de Saúde Animal, e é conhecida pela sigla DIVA. Por isso, a vacinação faz parte dos planos de combate à doença da Organização Mundial de Saúde, que apela à investigação para fazer vacinas contra os patos, o reservatório natural do vírus. "Mas a vacinação só deve ser aplicada em situações excepcionais, quando é declarado um foco", explicou Carlos Agrela Pinheiro, director-geral de Veterinária. "Vacinar os animais pode impedir de se saber quais os vacinados e os infectados rapidamente. Portanto, não está previsto fazê-lo como rotina", adiantou. c.b. Na falta de uma vacina contra a gripe das aves, os países estão a tentar fazer "stocks" de medicamentos antivirais. Mas esta medida recomendada pela Organização Mundial de Saúde não é de sucesso garantido. Na verdade, sabe-se muito pouco sobre a eficácia real de antivirais como o oseltamivir. "Estamos a construir uma estratégia de saúde pública com base nestas drogas, extrapolando muito a partir de poucos estudos de dimensões reduzidas", disse ao "The New York Times" Laurie Garrett, a autora do livro "The Coming Plague", sobre doenças emergentes. Até agora, o oseltamivir não era muito usado, pois apenas reduz os sintomas da gripe, sem evitar a doença. Além disso, tem de ser tomado até dois dias do início dos sintomas para fazer efeito, e não é nada barato. Em experiências divulgadas em Julho, apenas se salvaram 80 por cento dos ratinhos infectados com o H5N1 e tratados com uma dose equivalente a dez comprimidos, usada em humanos, relata a revista "New Scientist". Por outro lado, há que levar em conta que as encomendas feitas até agora do Tamiflu, o nome comercial do oseltamivir, são impossíveis de satisfazer dentro de pouco tempo. A Roche anunciou que duplicou a produção desta droga em 2004, duplicou outra vez este ano e voltará a fazê-lo em 2007. A farmacêutica não diz a quantas doses isso corresponde, mas a "New Scientist" estudou o relatório de actividades da empresa e diz que é provável representar uns 40 milhões de tratamentos por ano. E, mesmo a esse ritmo, a Roche levará dois anos só para satisfazer as encomendas que já tem. c.b. (Publico)