quinta-feira, outubro 13, 2005

Pandemia de gripe das aves poderá causar cem milhões de mortes

Uma grande epidemia de gripe humana poderá fazer até cem milhões de mortos em todo o mundo, segundo o cenário mais pessimista da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de vários cientistas.
Em Portugal, um relatório do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) apresentado em Junho deste ano sobre os "Cenários preliminares para uma eventual pandemia" refere três cenários hipotéticos, o pior dos quais aponta para 11.166 mortos.
O vírus H5N1 da gripe aviária que causou na Ásia a morte de milhões de aves e de mais de 60 pessoas desde 2003 é considerado como um dos "melhores candidatos" para se transformar num vírus pandémico se se adaptar ao Homem.
Foi o que se passou na pandemia de gripe espanhola em 1918/19, a primeira do século XX: um subtipo gripal completamente novo apareceu, contra o qual o Homem não estava imunizado, e propagou-se por todo o mundo em menos de meio ano, fazendo perto de 40 milhões de mortos.
A primeira pandemia de gripe do século XXI poderá atingir 20 por cento da população mundial, cerca de 30 milhões de pessoas precisarão de ser hospitalizadas, um quarto das quais morrerá, segundo um cenário evocado no final de Dezembro na revista Science por um cientista e por outro especialista da OMS.
No caso de Portugal, segundo o mesmo relatório do INSA, o pior cenário, para uma duração máxima de 20 semanas da pandemia, corresponderia a uma "taxa de ataque" de 35 por cento da população portuguesa (cerca de 3,6 milhões de pessoas), a 1,9 milhões de consultas e a 46.500 hospitalizações.
Segundo o director regional da OMS, Shigeru Omi, "as avaliações mais prudentes apontam para sete a dez milhões de mortes a nível mundial, mas o máximo poderá ser de cinquenta milhões ou até mesmo, no pior dos cenários, cem milhões", Estas diferentes estimativas baseiam-se particularmente na mortalidade (dois por cento dos doentes) verificada durante a pandemia de gripe espanhola, nas mudanças ocorridas de um hemisfério ao outro, mas também nos progressos sanitários.
O impacto depende também da virulência do vírus. O detectar a tempo, isolar e tratar os primeiros doentes poderá permitir conter a epidemia, atrasar e até mesmo evitar uma pandemia, segundo outros investigadores.
Para descobrir como avaliar o aparecimento de uma epidemia, os cientistas estudaram diferentes cenários de uma epidemia provocada por um vírus H5N1 "humanizado" com início numa zona rural da Tailândia (85 milhões de habitantes).
A identificação rápida do ou dos primeiros casos e a administração, se possível dentro de 48 horas, de um anti-viral como o oseltamivir (de nome comercial Tamiflu) a pessoas susceptíveis de terem sido contaminadas são preconizadas, a par de uma restrição dos contactos humanos nas zonas em causa.
Existe uma "estratégia aplicável para circunscrever a próxima pandemia de gripe", que oferece "a possibilidade de evitar milhões de mortes", conclui uma equipa de cientistas num estudo publicado em Agosto na revista Nature.
Para tal será necessário dispor de um stock de "três milhões de medicamentos antivirais, ou mais" e tratar se possível "mais de 90 por cento" da população visada.
No âmbito de outros cenários estudados, uma equipa americana concluiu que seria necessário que os medicamentos chegassem "em duas ou três semanas" para conter uma epidemia numa comunidade rural de 500 mil pessoas na Ásia.
A OMS, a quem o grupo farmacêutico suíço Roche ofereceu medicamentos anti-virais para três milhões de pessoas, previu constituir stocks de Tamiflu em diferentes países asiáticos.
Um eventual vírus da gripe das aves com capacidade de transmissão entre humanos deverá ser circunscrito num período de "duas a quatro semanas" após o seu aparecimento, caso contrário - alertou terça-feira em Nouméa um especialista da OMS - será "impossível de controlar".