Vírus H5N1 está a ganhar resistência ao antiviral mais usado no mundo
Clara Barata
Uma rapariga vietnamita que parece ter sido contaminada pelo irmão tinha versões do vírus H5N1 resistentes ao oseltamivir, pelo que é recomendado o uso de outro medicamento
O vírus da gripe das aves H5N1 está a começar a desenvolver resistência ao oseltamivir, o medicamento antiviral que está a ser usado para tratar as pessoas infectadas e do qual os países estão a fazer stocks de prevenção. A notícia é dada por investigadores vietnamitas e japoneses, num artigo divulgado ontem pela revista científica Nature, que aconselham a fazer mais uso do outro antiviral disponível, o zanamivir.O caso relatado pela equipa de Yoshihiro Kawaoka, que faz parte de várias instituições japonesas e da Universidade do Wisconsin (EUA), é de uma rapariga vietnamita de 14 anos, que começou a receber tratamento a 27 de Fevereiro de 2005 (um comprimido por dia), como medida de prevenção da infecção, porque estava a cuidar do seu irmão de 21 anos, que tinha adoecido com o vírus H5N1. Mas entre as várias amostras do vírus que a infectava encontravam-se algumas versões do H5N1 com alterações no gene da neuramidase (que comanda a produção de uma das proteínas de superfície do vírus), que o tornavam altamente resistente ao oseltamivir. Outras amostras eram sensíveis ou apresentavam uma resistência moderada, mas todas eram sensíveis ao zanamivir, que tem sido menos usado. Este caso teve, no entanto, um final feliz: a rapariga teve alta a 14 de Março.O caso desta rapariga não é comum: a análise genética ao vírus que a infectava revelou várias semelhanças com o vírus que infectou o irmão. Além do mais, ela não teve qualquer contacto com aves; é um caso muito provável de transmissão do H5N1 de pessoa para pessoa.As suspeitasde transmissão humanaPor ora, o H5N1 não consegue passar de pessoa para pessoa de forma sistemática. Para se ser contaminado, é preciso entrar em contacto com fezes ou outro material biológico de aves. Se fosse transmissível de pessoa para pessoa, então sim, poderia tornar-se mesmo perigoso, pois poderia alastrar com a facilidade dos vírus da gripe normais, através de partículas no ar quando espirramos ou tossimos. Mas, como mostra o caso desta rapariga vietnamita, há alguns casos em que se suspeita que houve transmissão de pessoa para pessoa.A revista Emerging Infectious Diseases, dos Centros de Controlo e Prevenção das Doenças dos Estados Unidos, publicará em Novembro um artigo que relata uma série de núcleos familiares de transmissão do H5N1. "De Janeiro de 2004 a Julho de 2005, foram registados pela Organização Mundial de Saúde 109 casos humanos de gripe das aves. Durante este período, foram identificados 15 núcleos familiares de transmissão", 11 dos quais no Vietname.O número destes casos tem-se mantido estável. E a transmissão de pessoa para pessoa pode não se confirmar: simplesmente, os vários indivíduos de uma casa podem estar expostas aos mesmos riscos, sublinha o artigo, que tem como principal autor Sonja Olsen, do Programa Internacional de Infecções Emergentes da Tailândia.Seja como for, estes casos são motivo de preocupação, pois são terreno fértil para surgirem mutações perigosas: "Estes núcleos de casos podem ser uma primeira indicação de mutações virais que resultem numa transmissão mais eficaz de pessoa para pessoa."Todos estes dados podem ter implicações importantes nas estratégias de tratamento da infecção (tanto ao nível do uso profiláctico como terapêutico dos antivirais), diz a equipa que relata o caso de resistência ao oseltamivir na Nature. Além de ser necessário investigar mais para saber se as doses recomendadas devem ser alteradas, os investigadores aconselham a diversificar as armas: "Pode ser útil fazer stocks de zanamivir, para além do oseltamivir, preparando a possibilidade de uma pandemia de gripe pelo H5N1." (Publico)
Uma rapariga vietnamita que parece ter sido contaminada pelo irmão tinha versões do vírus H5N1 resistentes ao oseltamivir, pelo que é recomendado o uso de outro medicamento
O vírus da gripe das aves H5N1 está a começar a desenvolver resistência ao oseltamivir, o medicamento antiviral que está a ser usado para tratar as pessoas infectadas e do qual os países estão a fazer stocks de prevenção. A notícia é dada por investigadores vietnamitas e japoneses, num artigo divulgado ontem pela revista científica Nature, que aconselham a fazer mais uso do outro antiviral disponível, o zanamivir.O caso relatado pela equipa de Yoshihiro Kawaoka, que faz parte de várias instituições japonesas e da Universidade do Wisconsin (EUA), é de uma rapariga vietnamita de 14 anos, que começou a receber tratamento a 27 de Fevereiro de 2005 (um comprimido por dia), como medida de prevenção da infecção, porque estava a cuidar do seu irmão de 21 anos, que tinha adoecido com o vírus H5N1. Mas entre as várias amostras do vírus que a infectava encontravam-se algumas versões do H5N1 com alterações no gene da neuramidase (que comanda a produção de uma das proteínas de superfície do vírus), que o tornavam altamente resistente ao oseltamivir. Outras amostras eram sensíveis ou apresentavam uma resistência moderada, mas todas eram sensíveis ao zanamivir, que tem sido menos usado. Este caso teve, no entanto, um final feliz: a rapariga teve alta a 14 de Março.O caso desta rapariga não é comum: a análise genética ao vírus que a infectava revelou várias semelhanças com o vírus que infectou o irmão. Além do mais, ela não teve qualquer contacto com aves; é um caso muito provável de transmissão do H5N1 de pessoa para pessoa.As suspeitasde transmissão humanaPor ora, o H5N1 não consegue passar de pessoa para pessoa de forma sistemática. Para se ser contaminado, é preciso entrar em contacto com fezes ou outro material biológico de aves. Se fosse transmissível de pessoa para pessoa, então sim, poderia tornar-se mesmo perigoso, pois poderia alastrar com a facilidade dos vírus da gripe normais, através de partículas no ar quando espirramos ou tossimos. Mas, como mostra o caso desta rapariga vietnamita, há alguns casos em que se suspeita que houve transmissão de pessoa para pessoa.A revista Emerging Infectious Diseases, dos Centros de Controlo e Prevenção das Doenças dos Estados Unidos, publicará em Novembro um artigo que relata uma série de núcleos familiares de transmissão do H5N1. "De Janeiro de 2004 a Julho de 2005, foram registados pela Organização Mundial de Saúde 109 casos humanos de gripe das aves. Durante este período, foram identificados 15 núcleos familiares de transmissão", 11 dos quais no Vietname.O número destes casos tem-se mantido estável. E a transmissão de pessoa para pessoa pode não se confirmar: simplesmente, os vários indivíduos de uma casa podem estar expostas aos mesmos riscos, sublinha o artigo, que tem como principal autor Sonja Olsen, do Programa Internacional de Infecções Emergentes da Tailândia.Seja como for, estes casos são motivo de preocupação, pois são terreno fértil para surgirem mutações perigosas: "Estes núcleos de casos podem ser uma primeira indicação de mutações virais que resultem numa transmissão mais eficaz de pessoa para pessoa."Todos estes dados podem ter implicações importantes nas estratégias de tratamento da infecção (tanto ao nível do uso profiláctico como terapêutico dos antivirais), diz a equipa que relata o caso de resistência ao oseltamivir na Nature. Além de ser necessário investigar mais para saber se as doses recomendadas devem ser alteradas, os investigadores aconselham a diversificar as armas: "Pode ser útil fazer stocks de zanamivir, para além do oseltamivir, preparando a possibilidade de uma pandemia de gripe pelo H5N1." (Publico)
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