quinta-feira, outubro 13, 2005

OMS teme pandemia de gripe aviária

Jamil Chade

A agência de Saúde da ONU manda o mundo se preparar para a eventual pandemia da gripe aviária e alerta: a contaminação de alguém em qualquer lugar do planeta pode ser mais fácil do que se imagina. "Caso o surto ocorra, basta um vôo entre Hong Kong e São Paulo para o problema chegar ao Brasil", afirmou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Jong Wook Lee. O vírus da gripe está, por enquanto, atingindo quase que exclusivamente animais. Mas em quatro países asiáticos - Indonésia, Camboja, Tailândia e Vietnã - 112 casos de contaminação de pessoas já foram registradas, com 57 mortes desde 2003. O problema é que cresce o número de países onde se registra casos do vírus na produção de frango.Hoje são nove países atingidos pela gripe aviária entre os animais. "Estamos vendo uma expansão geográfica desse problema", afirma a OMS. A organização admite que não sabe se essa transmissão entre animais e seres humanos se intensificará nos próximos meses, mas adverte que "todos os sinais de alerta estão surgindo nesse sentido". "Não sabemos quando a pandemia virá, mas precisamos nos prevenir, pois afetará dezenas de milhões de pessoas, poderá gerar milhões de mortes e terá um efeito devastador. Seria uma grande irresponsabilidade deixar de tomar medidas", afirmou Lee.Por enquanto ainda não existe qualquer indício de transmissão do vírus entre uma pessoa e outra, mas a possibilidade não pode ser descartada já que o vírus conhecido como H5N1 pode sofrer mutações. Amanhã os 25 países da União Européia (UE) se reúnem para determinar qual estratégia vão utilizar caso o vírus chegue ao Velho Continente. O temor é a proliferação de casos nos frangos da Rússia, na fronteira da Europa. Com o inverno no hemisfério norte chegando, o temor é de que a gripe possa surgir nos próximos meses. "Caso ocorra, a pandemia não fará distinção entre pobres e ricos", afirmou Lee. Em sua avaliação, os países precisam preparar planos de prevenção.Pelos dados da OMS, o Brasil é o único país da América Latina com um plano publicado e técnicos em Genebra afirmam estar em contato com Brasília para orientar de que forma a prevenção pode ser feita. "Nenhum país está seguro", alertou Lee. Para se preparar para o pior, vários países ricos, como os europeus, Estados Unidos e Japão, começam a montar seus estoques de remédio. Em alguns locais da Europa, estima-se que os governos já tenham remédios para até 40% de suas populações.O problema, porém, é que o único medicamento que teria potencialmente algum efeito real é o antiviral Tamiflu. E apenas a Roche o produz, mantendo o remédio sob patente. Hoje a empresa anunciou que está doando 30 milhões de pílulas para o tratamento de uma eventual pandemia. Lee, apesar de agradecer a Roche, admite que esse volume de cápsulas somente seria suficiente para os primeiros momentos de uma emergência caso o surto de fato ocorra. Para que uma pessoa controle o vírus, precisa tomar duas pílulas por dia por cinco dias. Uma proliferação da doença pelo mundo, portanto, exigiria um número muito maior de remédios.