sexta-feira, outubro 14, 2005

Madeira prepara-se para enfrentar a ameaça de uma pandemia de gripe

Sara Silvino

Para as autoridades responsáveis pelo sector da saúde - a nível mundial – a questão não é se vai haver a pandemia da gripe das aves. A questão é quando e quantas pessoas vão morrer em todo o Mundo.
Em Portugal podem morrer milhares. Na Madeira, as vítimas podem ser na ordem das centenas. A região reúne-se na próxima terça-feira, dia 18, para a primeira reunião formal de trabalho com a Saúde Pública, que tem a ver com a articulação e todo o planeamento a nível regional relativamente a esta doença.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera inevitável que, a curto prazo, apareça uma pandemia mundial de gripe. A maioria dos países prepara-se para enfrentar esta ameaça, criando planos de vigilância e combate. Portugal também já tem um plano de contingência para lutar contra a gripe das aves.
A Madeira poderá estar incluída na rota das aves migratórias, não sendo por isso excepção. A gripe das aves pode vitimar centenas de pessoas na região. Os responsáveis já estão a elaborar um plano de prevenção e de tratamento.
Na próxima terça-feira, dia 18, realiza-se a primeira reunião formal entre as duas direcções regionais (Direcção Regional de Pecuária e Direcção Regional de Saúde Pública), que tem tem a ver com a articulação e todo o planeamento a nível regional, relativamente a esta doença.
Apesar de, nestas últimas semanas, todas as atenções tenham estado concentradas nas eleições autárquicas, a realidade é que o assunto da gripe das aves continua a dar que falar. O problema deve ser ponderado com todo o rigor e prioridade porque os factos apontam para uma possível evolução da gripe, em que esta poderá, dentro em breve, tornar-se numa pandemia mundial.
O Tribuna da Madeira fez alguns contactos para tentar transmitir à população alguma informação sobre o assunto. O presidente da Ordem dos Médicos, França Gomes, não se pronunciou sobre o assunto e afirmou não ter informações sobre o caso, não sendo da sua competência e remeteu para um seu colega profissional de saúde que também não se manifestou e remeteu para a Directora Regional de Saúde Pública, Isabel Lencastre.
Em entrevista ao Tribuna, Isabel Lencastre afirmou: “Neste momento a região está atenta e trabalha em articulação com a Direcção Geral de Saúde de forma a, estar preparada para uma eventual situação dessas.”
Questionada sobre quais as medidas que a região está a tomar, em relação à situação da gripe das aves, responde: “A região está a elaborar um plano de acordo com as recomendações da OMS. As medidas de prevenção a tomar são comuns a outras patologia, nomeadamente, medidas de protecção no caso de espirros e de tosse, em que as pessoas devem se proteger com um lenço, e devem lavar bem as mãos”, explica a Directora Regional de Saúde Pública.

“A vacina não existe porque não houve a mutação do vírus humano”
Em relação à vacinação, Isabel Lencastre afirma: “A vacina para os humanos contra a gripe das aves ainda não existe porque ainda não se deu a mutação do vírus, ainda não existe nos humanos”, aponta.
Explica ainda: “É uma situação diferente da gripe sazonal em que, nesta, já existe uma vacina, para a qual a prevenção pode ser feita através da vacinação”, diz a responsável.
Questionada se a população madeirense estará devidamente informada sobre esta situação problemática da gripe das aves e suas consequências, Isabel Lencastre esclarece: “Tem sido divulgada muita informação através da Comunicação Social. Contudo a situação não é para alarme e não há razões para pânico, porque neste momento o vírus não tem ainda uma forma que permita a transmissão de pessoa a pessoa.”
No entanto: “As pessoas devem se manter atentas e informadas e tomar as medidas de prevenção que forem aconselhadas”, revela.
No que se refere ao número de vítimas, que tem sido divulgado na Comunicação Social, caso esta situação chegue à região, Isabel Lencastre é directa: “Não se pode falar de números directos. Foi construído um modelo matemático que é, sobretudo, para aplicação para fins de planeamento de recursos e serviços de saúde”, remata Lencastre.

“A mutação pode ser do tipo da gripe de Hong Kong”

Cientistas descobriram que a gripe das aves é semelhante à gripe espanhola, que há um século vitimou milhões de pessoas.
Em relação a esta semelhança, Isabel Lencastre remata : “Fala-se tanto na gripe espanhola, mas também existiu a gripe de Hong Kong que passou praticamente despercebida, é porque todas estas situações iniciaram-se sempre na Ásia, mas houve mutações do vírus, e neste momento, ainda não houve mutação do vírus. A haver uma mutação, como referi, pode ser do tipo da gripe de Hong Kong e não ser uma situação grave. De qualquer forma temos que seguir as recomendações da OMS e estarmos preparados”, finaliza.

“Aconselho a todas as pessoas que façam a vacinação contra a gripe”
Paulo Sousa – presidente da Ordem dos Farmacêuticos

Segundo o presidente da Ordem dos Farmacêuticos, Paulo Sousa, esta é realmente uma situação preocupante e, como tal, deixa um conselho à população, como medida de prevenção: “Esta é uma situação que requer grande preocupação. A Organização Mundial de Saúde (OMS) não ia perder tempo com uma situação destas se não achasse que existe realmente um risco real de poder acontecer uma pandemia. Como tal, neste momento, a única coisa que posso fazer é aconselhar a todas as pessoas que façam a vacinação. Apesar de não estar directamente relacionado, devem fazer a vacinação contra a gripe, porque tem a vantagem de poder conseguir uma resistência cruzada ao vírus, embora o risco não seja o mesmo, pode aumentar a resistência contra a eventualidade da gripe cá chegar”, salienta o presidente da OF.
Segundo Paulo Sousa: “Os grupos de maior risco (idosos e crianças) têm essa vacinação gratuita nos Centros de Saúde e podem perfeitamente pedir ao seu médico de família para lhes prescrever uma vacina para a gripe e assim ficarem mais descansados”, afirma.
O presidente da Ordem dos Farmacêuticos realça: “Não é uma protecção directa mas como há a eventualidade de uma protecção cuidada, é uma vantagem para as pessoas.”

“Não temos nenhum plano na gaveta pronto a ser usado numa emergência”

Segundo o director da empresa “Sodiprave”, Paulo Calaça: “Nós só trabalhamos com frangos de produção regional”, afirma.
Questionado se, por causa das notícias sobre a gripe das aves, o consumo tem diminuído, o empresário conta: “As pessoas não têm se mostrado preocupadas nem deixado de consumir os frangos regionais. Os clientes falam da gripe das aves mas é só por comentar”, esclarece Calaça.
No que se refere a medidas de precaução, Paulo Calaça afirma: “Sei que aqui na região quem tutela essa área é a Direcção Regional de Pecuária, e que andam a fazer o levantamento de alguns dados para tomar algumas medidas preventivas.”
Se de um momento para outro, a região for “invadida” pelo vírus da gripe das aves, e segundo Paulo Calaça: “Não existe nenhum plano na gaveta pronto a ser usado numa emergência”, aponta o empresário.
Se tal facto, porventura acontecer, e segundo o empresário da Sodiprave: “Em primeiro lugar, vamos pedir logo ajuda a quem percebe, que será a Pecuária. E depois logo se vê qual a gravidade da situação. Ouve-se falar em muita coisa mas não se vê ninguém ainda a fazer nada”, remata Calaça.
Para finalizar, Paulo Calaça esclarece: “Sei que estão a ser criadas condições, na região, para que as pessoas que trabalham directamente com aves sejam vacinadas contra a gripe.
Estamos todos na expectativa e vamos ver se passamos ao lado. Espero bem que sim”, finaliza.

Vírus H5N1 poderá tornar-se “pandemia do século XXI”

A Organização Mundial de Saúde (OMS) adverte que o Mundo não está preparado para enfrentar a gripe das aves. Segundo a organização, a questão mais preocupante não é saber se o vírus vai sofrer mutação, e sim quando.
A OMS enviou a todos os seus membros uma lista detalhada de “medidas estratégicas recomendadas para enfrentar a ameaça de uma pandemia da gripe”.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o vírus H5N1, que causou a morte a milhões de aves e mais de 60 pessoas na Ásia desde 2003, é considerado um dos “melhores candidatos” para se transformar num vírus pandémico se se adaptar ao Homem.
A gripe das aves é causada pela cepa A do vírus gripal (H5, H7, H9) e foi identificada há mais de cem anos na Itália. A expansão mundial do agente viral H5N1 é o que preocupa os epidemiologistas.
O ministro da agricultura da Roménia, Gheorghe Flutur, confirmou, ontem, a presença de um vírus da gripe das aves nas amostras recolhidas no delta do Danúbio. Depois da Turquia, a Roménia passa também a integrar a lista dos países que estão contaminados pelo vírus da gripe das aves.

“A Europa tem de estar preparada”

O comissário europeu para a Saúde, Markos Kyprianou, avisou ontem que a Europa tem de estar preparada para a eventualidade de uma pandemia relacionada com a gripe das aves ou com outro vírus, e instou os Estados membros a tornarem esta questão prioritária.
“Pode ser daqui a muito tempo, pode ser amanhã. Por isso temos de estar permanentemente preparados", alertou. Adiantando ainda: “É fundamental que esta questão "se torne uma prioridade para todos os Estados membros" e que estes façam "os investimentos adequados" a nível de prevenção.”

O que é a gripe das aves?

A gripe das aves (H5N1) é um tipo de influenza vírus A que originalmente apenas afectava as aves, como galinhas, patos, e outras. Partilha, portanto, com o vírus da gripe aquilo que o tornou imbatível ao longo dos anos no caso humano: a sua grande capacidade de mutação, que dificulta o seu controlo. A capacidade de saltar espécies” tornou-se uma nova preocupação a nível mundial, com a identificação de casos de infecção de seres humanos com mortalidade muito elevada.
A via de transmissão:

A gripe das aves é transmitida pelo contacto com as aves domésticas, aves infectadas ou as excreções fecais destas aves, sendo ineficiente a transmissibilidade entre humanos.

Sintomas:

A sintomatologia nos seres humanos infectados pelo vírus da gripe das aves, é muito semelhante à dos seres humanos infectados por outras estirpes humanas de influenza. No entanto, com frequência, a gripe das aves por H5N1, no homem, manifesta-se por febre alta, pneumonia, insuficiência respiratória, e falência de diversos órgãos e conduz mesmo à morte.

Tratamento:

De um modo geral, no essencial, é aplicado o tratamento de suporte e administração de terapêutica segundo a prescrição médica. Só se administram antibióticos em situações de infecção bacteriana. Os doentes devem ter descanso suficiente e uma boa hidratação. Devem igualmente prestar atenção à higiene pessoal, procedendo com frequência à lavagem das mãos, deste modo evitando a propagação do vírus através das mãos, que podem estar contaminadas pelo vírus através do contacto com o nariz ou a boca.

Conter os surtos:

A forma mais eficaz de conter os surtos é através do abate e eliminação das carcaças das aves, bem como da desinfecção e quarentena das zonas afectadas.

Medidas de prevenção

A gripe das aves, provocada pelo vírus Influenzae A(H5N1), poderá ser contraída pelo homem através do contacto com aves infectadas. Para evitar o aparecimento da gripe das aves recomenda-se algumas medidas preventivas destinadas ao público, em geral:

- Evite o contacto com aves doentes (galinhas, patos, gansos, etc.) ou outro tipo de animais que levantem suspeitas relativamente ao seu estado de saúde.
- Lave sempre as mãos com água e sabão, após manusear qualquer tipo de aves ou outros animais.
- Evite a promiscuidade entre alimentos crus e cozinhados.
- Lave convenientemente todos os utensílios de cozinha (incluindo bancas e bancadas, pranchas para corte de alimentos, talheres, etc.), antes da sua reutilização na preparação de outros alimentos.
- Consuma somente alimentos devidamente cozinhados e quentes.
- Reforce e promova a adopção de medidas gerais de higiene individual (por exemplo, lave sempre as mãos com sabão, depois de utilizar os sanitários e antes de cozinhar ou preparar qualquer tipo de alimentos) e colectiva (não espirrar nem tossir na direcção de outras pessoas).
- Mantenha uma dieta equilibrada, faça regularmente exercício físico e tenha períodos de repouso suficientes, de modo a manter as defesas imunológicas do organismo.
- Evite espaços fechados e sem ventilação natural adequada, bem como espaços fechados com grande concentração de pessoas.

Gripe das aves semelhante à espanhola
Os cientistas receiam cenários semelhantes ao da gripe espanhola, que em 1918, causou entre 20 a 100 milhões de mortes a nível mundial. A OMS tem lançado vários alertas, pedindo ao governo e às empresas farmacêuticas que se preparem para enfrentar a próxima epidemia global de gripe que, possivelmente, será causada pelo H5N1.
Os cientistas descobriram que o vírus da gripe das aves é semelhante ao da gripe espanhola. As semelhanças vão ajudar os investigadores a encontrar vacinas e medicamentos anti-retrovirais.
Portugal investe 20 milhões de euros para preparar a chegada da gripe. Integrado na rede de trabalho que envolve a Organização Mundial de Saúde e a União Europeia, no que concerne à vigilância da gripe das aves, Portugal não é excepção e tomou as medidas preventivas próprias, comprando 2,5 milhões de tratamentos contra uma eventual pandemia.
Os anti-virais, que possivelmente chegarão a Portugal no final do ano, permitirão 2,5 milhões de tratamentos, o que assegura a protecção de um quarto da população portuguesa.
O Diário da República publicou uma resolução do Conselho de Ministros que autoriza a despesa com a aquisição do medicamento anti-viral Oseltamivir contra o vírus da gripe das aves, num montante global de 22,58 milhões de euros. A resolução do Conselho de Ministros 150/2005, diz que o Governo “entende ser necessário adquirir anti-virais a utilizar como tratamento e profilaxia prolongada” (Tfribuna da Madeira, 14 de Outubro)