Há risco de pandemia, mas o vírus ainda não consegue passar de pessoa para pessoaClara Barata
Clara Barata
As previsões de uma catástrofe a nível global têm-se sucedido. Em Setembro, David Nabarro, o coordenador das Nações Unidas para as medidas contra a gripe das aves, falou na possibilidade de morrerem 150 milhões de pessoas. Um mês antes, Michael Osterholm, director do Centro para a Investigação e Política de Doenças Infecciosas dos EUA, num artigo publicado na revista Foreign Affairs, era ainda mais dramático: dizia que as mortes poderiam ser entre 180 milhões e 360 milhões. Mas, apesar de tantos alertas catastróficos que pretendem chamar a atenção para um problema que parece certo, a verdade é que, até agora, o vírus H5N1 ainda é muito ineficaz para poder causar uma pandemia humana.As mais de 60 mortes de humanos até agora foram de pessoas que entraram em contacto directo com fezes ou outros materiais biológicos de aves infectadas. Embora existam dúvidas sobre um caso no Vietname, em que filho e mãe morreram, não há provas de que tenha havido transmissão do vírus de pessoa para pessoa. Mas, mesmo que isto tenha já acontecido pontualmente, o vírus H5N1 ainda não adquiriu a capacidade de o fazer sistematicamente. Se o conseguir, então sim, chegou a altura de nos preocuparmos mesmo.A forma mais eficaz de travar a epidemia seria uma vacina. Mas só se poderá começar a desenvolver uma vacina eficaz depois de o vírus sofrer as mutações genéticas que lhe permitam passar de pessoa para pessoa. Vacinas feitas antes serão apenas, na melhor das hipóteses, parcialmente eficazes, pois não mostram ao sistema imunitário o verdadeiro aspecto que o vírus terá. "A maior parte das gripes humanas começam como vírus das aves, mas muitos nunca evoluem para formas capazes de nos fazer mal. Embora as epidemias de gripe ocorram, em média, três vezes por século, e a última tenha acontecido já em 1968, não há nenhuma indicação de que um vírus se esteja a transformar num assassino de seres humanos. O risco é teórico", defendeu, num artigo de opinião publicado esta semana no jornal The Washington Post, Marc Siegel, da Universidade de Nova Iorque e autor do livro False Alarm: The Truth about the Epidemic of Fear.Os cientistas têm pintado a ameaça em termos cada vez mais negros como forma de chamar a atenção dos cidadãos e, sobretudo, dos políticos, para a necessidade de pôr em prática medidas que permitam conter a próxima grande epidemia de gripe. Mas, no meio de tanta preocupação com os stocks de antivirais e os esforços para desenvolver uma vacina para seres humanos, tem-se esquecido o que seria mais importante: conter a doença quando ainda está apenas nas aves seria muito mais fácil e mais barato, como diz Joseph Domenech, chefe da Sanidade Animal na Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), numa entrevista ao jornal El País."Se dedicássemos apenas dez por cento do que se gasta na busca de vacinas para humanos na investigação sobre a doença nos animais, acabaríamos com a doença. Segundo os nossos cálculos, bastaria dedicar uns 100 milhões de dólares, num ou dois anos, para solucionar o problema na Ásia, enquanto armazenar vacinas e medicamentos para humanos custa milhares de milhões de dólares", sublinhou Domenech (Publico)
As previsões de uma catástrofe a nível global têm-se sucedido. Em Setembro, David Nabarro, o coordenador das Nações Unidas para as medidas contra a gripe das aves, falou na possibilidade de morrerem 150 milhões de pessoas. Um mês antes, Michael Osterholm, director do Centro para a Investigação e Política de Doenças Infecciosas dos EUA, num artigo publicado na revista Foreign Affairs, era ainda mais dramático: dizia que as mortes poderiam ser entre 180 milhões e 360 milhões. Mas, apesar de tantos alertas catastróficos que pretendem chamar a atenção para um problema que parece certo, a verdade é que, até agora, o vírus H5N1 ainda é muito ineficaz para poder causar uma pandemia humana.As mais de 60 mortes de humanos até agora foram de pessoas que entraram em contacto directo com fezes ou outros materiais biológicos de aves infectadas. Embora existam dúvidas sobre um caso no Vietname, em que filho e mãe morreram, não há provas de que tenha havido transmissão do vírus de pessoa para pessoa. Mas, mesmo que isto tenha já acontecido pontualmente, o vírus H5N1 ainda não adquiriu a capacidade de o fazer sistematicamente. Se o conseguir, então sim, chegou a altura de nos preocuparmos mesmo.A forma mais eficaz de travar a epidemia seria uma vacina. Mas só se poderá começar a desenvolver uma vacina eficaz depois de o vírus sofrer as mutações genéticas que lhe permitam passar de pessoa para pessoa. Vacinas feitas antes serão apenas, na melhor das hipóteses, parcialmente eficazes, pois não mostram ao sistema imunitário o verdadeiro aspecto que o vírus terá. "A maior parte das gripes humanas começam como vírus das aves, mas muitos nunca evoluem para formas capazes de nos fazer mal. Embora as epidemias de gripe ocorram, em média, três vezes por século, e a última tenha acontecido já em 1968, não há nenhuma indicação de que um vírus se esteja a transformar num assassino de seres humanos. O risco é teórico", defendeu, num artigo de opinião publicado esta semana no jornal The Washington Post, Marc Siegel, da Universidade de Nova Iorque e autor do livro False Alarm: The Truth about the Epidemic of Fear.Os cientistas têm pintado a ameaça em termos cada vez mais negros como forma de chamar a atenção dos cidadãos e, sobretudo, dos políticos, para a necessidade de pôr em prática medidas que permitam conter a próxima grande epidemia de gripe. Mas, no meio de tanta preocupação com os stocks de antivirais e os esforços para desenvolver uma vacina para seres humanos, tem-se esquecido o que seria mais importante: conter a doença quando ainda está apenas nas aves seria muito mais fácil e mais barato, como diz Joseph Domenech, chefe da Sanidade Animal na Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), numa entrevista ao jornal El País."Se dedicássemos apenas dez por cento do que se gasta na busca de vacinas para humanos na investigação sobre a doença nos animais, acabaríamos com a doença. Segundo os nossos cálculos, bastaria dedicar uns 100 milhões de dólares, num ou dois anos, para solucionar o problema na Ásia, enquanto armazenar vacinas e medicamentos para humanos custa milhares de milhões de dólares", sublinhou Domenech (Publico)
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